segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O CORTIÇO

O CORTIÇO, DE ALUÍSIO DE AZEVEDO
O Cortiço foi publicado em 1890, em meio à atividade febril de produção literária a que Aluísio Azevedo se viu obrigado, em seu projeto de profissionalizar-se como escritor. Teve de escrever muitos romances e contos para atender a pedidos de editores, que procuravam corresponder ao gosto do público leitor, um gosto marcado pelo pior tipo de romantismo. Por isso, produziu muita literatura inferior, baixamente romântica, estilisticamente descuidada. Mas O Cortiço tem situação inteiramente à parte nessa produção numerosa e quase toda sem importância, pois neste livro Aluísio pôs em prática os princípios naturalistas, em que acreditava, e toda a sua capacidade artística.

Narrado em 3ª pessoa, a obra tem um narrador onisciente que se situa fora do mundo narrado e/ou descrito. Há um total distanciamento entre o narrador e o mundo ficcional. Há o predomínio na narrativa do discurso indireto livre, o que permite ao autor revelar o pensamento das personagens. A visão do narrador é fatalista pois as camadas populares são vistas como animais condenados ao meio social que habitam, homens fadados a viverem como animais selvagens.

O cenário é descrito com ambiente e os caracteres em toda a sua sujeira, podridão e promiscuidade, com uma intenção crítica - mostrar a miséria do proletariado urbano - sem esconder a náusea que o narrador sente diante da realidade que revela, mas posicionando-se de maneira solidária junto ao povo do cortiço: "Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras ...o prazer animal de existir,... E naquela terra, ...naquela umidade quente e lodosa, começou a minhoca a esfervilhar, a crescer,... uma coisa viva, uma geração que parecia espontânea,... multiplicar-se como larvas no esterco."

Romance de cunho social, O Cortiço, de Aluísio Azevedo, é o marco da literatura realista-naturalista brasileira. Uma história envolvente e sombria de uma habitação coletiva no Rio de Janeiro do Segundo Império que tem como tema a ambição e a exploração do homem pelo próprio homem. De um lado, João Romão, que aspira à riqueza, e Miranda, já rico, que aspira à nobreza. Do outro lado, a "gentalha", caracterizada como um conjunto de animais, movidos pelo instinto e pela fome. Todas as existências se entrelaçam e repercutem umas nas outras. O cortiço é o núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão.

No século XIX, os cortiços eram galpões de madeira habitados por trabalhadores não-qualificados. Esses galpões eram subdivididos internamente. O proprietário era geralmente português, dono de armazém próximo. Mas havia outros interessados: o Conde D'Eu, marido da princesa Isabel, foi dono de um imenso cortiço, o "Cabeça-de-porco", onde viviam mais de 4 mil pessoas.

O romance é de nítido recorte sociológico, representando as relações entre o elemento português, que explora o Brasil em sua ânsia de enriquecimento, e o elemento brasileiro,apresentado como inferior e vilmente explorado pelo português. A obra revela a aceitação de idéias filosóficas e científicas do tempo: a redução das criaturas ao nível animal (zoomorfismo) é característica do Naturalismo e revela a influência das teorias da Biologia do século XIX (darwinismo, lamarquismo) e o Determinismo (raça, meio, momento).

O sexo é, em O Cortiço, força mais degradante que a ambição e a cobiça. A supervalorização do sexo, típica de determinismo biológico e do naturalismo, conduz Aluísio a focalizar diversas formas de "patologia" sexual: "acanalhamento" das relações matrimoniais, adultério, prostituição, lesbianismo etc.

Na elaboração de O Cortiço, Aluísio Azevedo seguiu, como em Casa de Pensão (que é bastante inferior), a técnica naturalista de Zola. Visitou inúmeras habitações coletivas do Rio; interrogou lavadeiras, sapoeiras, vendedores, cavouqueiros; observou-lhes a linguagem; escutou atento os ruídos coletivos dos cortiços; sentiu-lhes o cheiro (como na obra de Zola, as imagens olfativas têm importância na fixação do ambiente, segundo um processo criado pelos naturalistas); viu-lhes a promiscuidade e notou que as coletividades, apesar de divergirem, são ligadas por um estranho sentimento de classe que as une, nos momentos mais críticos, quando são esquecidos os ódios e as divergências. Com toda essa “documentação”, criou o enredo em tomo de um problema social que se tomava mais e mais grave, com a formação de mandes massas urbanas proletárias, constituídas em boa parte pelos operários dos primórdios da industrialização do país.

Duas grandes qualidades devem ser observadas no estilo de O Cortiço: uma é a grande capacidade de representação visual do autor, certamente relacionada com sua habilidade para o desenho (Aluísio exerceu, em certa época, a atividade de caricaturista) e que faz que tenhamos freqüentemente, ao ler o romance, a impressão de estarmos assistindo a um filme; a outra é a sua formidável habilidade para dar vida à multidão, ao grande grupo humano dos moradores do cortiço. De fato, vemos, no romance, essa coletividade pulsar, reagir, legando-se, deprimindo-se ou irando-se — e ocupando o lugar de personagem central da obra. Desse grupo variado e animado destacam¬se alguns tipos, a que o romancista soube atribuir urna individualidade marcante. Entre estes últimos, é inesquecível a figura de Rita Baiana, a bela, sensual, generosa e graciosa mulata, que se tornou uma das personagens mais notáveis da literatura brasileira. Deve se notar que no romance, as mulheres são reduzidas a três condições: de objeto, usadas e aviltadas pelo homem: Bertoleza e Piedade; de objeto e sujeito, simultaneamente: Rita Baiana; e de sujeito, são as que se independem do homem, prostituindo-se: Leonie e Pombinha.

Veja exemplos de descrição realista e objetiva dos tipo humanos na obra:

João Romão: E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para a venda, da venda hortas e ao capinzal, sempre em mangas de camisa, tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, com o seu eterno ar de cobiça apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não pode apoderar-se logo com as unhas.

...possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco estopa cheio de palha.

Albino: Fechava a fila das primeiras lavadeiras, o Albino, um sujeito afeminado, fraco, cor de aspargo cozido e com um cabelinho castanho, deslavado e pobre, que lhe caia, numa só linha, até o pescocinho mole e fino.

Botelho: Era um pobre-diabo caminhando para os setenta anos, antipático, cabelo branco, curto e duro como escova, barba e bigode do mesmos teor; muito macilento, com uns óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da pupila e davam-lhe à cara uma expressão de abutre, perfeitamente de acordo com o seu nariz adunco e com a sua boca sem lábios: viam-lhe ainda todos os dentes mas, tão gastos, que pareciam 1imados até ao meio. (...) Atirou-se muito às especulações; durante a guerra do Paraguai ainda ganhara forte, chegando a ser bem rico; mas a roda desandou e, de malogro em malogro, foi-lhe escapando tudo por entre as suas garras de ave de rapina.

ENREDO

O Cortiço conta principalmente duas histórias: a de João Romão e Miranda, dois comerciantes, o primeiro, o avarento dono do cortiço, que vive com uma escrava a qual ele mente liberdade. Com o tempo sua inveja de Miranda, menos rico mas mais fino, com um casamento de fachada, leva-o a querer se casar com sua filha (e tornar-se Barão no futuro, tal qual Miranda se torna no meio da história). Isto faz com que ele se refine e mais tarde tente devolver Bertoleza, a escrava, a seu antigo dono (ela se mata antes de perder a liberdade). A outra história é a de Jerônimo e Rita Baiana, o primeiro, um trabalhador português que é seduzido pela Baiana e vai se abrasileirando. Acaba por abandonar a mulher, pára de pagar a escola da filha e matar o ex-amante de Rita Baiana. No pano de fundo existem várias histórias secundárias, notavelmente as de Pombinha, Leocádia e Machona, assim como a do próprio cortiço, que parece adquirir vida própria como personagem. Vejamos.

A área suburbana do Rio de Janeiro do século XIX é o cenário da história de um esperto e pão-duro comerciante português chamado João Romão. Comprando um pequeno estabelecimento comercial, este consegue se aliar a uma negra escrava fugida de nome Bertoleza, proprietária de uma pequena quitanda. Para agradá-la, falsifica uma carta de alforria que asseguraria à negra a tão desejada liberdade. O pequeno estabelecimento, mantido pela esperteza de João Romão e o trabalho árduo de Bertoleza, começa a crescer. Aos poucos o português começa a construir e alugar pequenas casas, o que leva a edificação de um grande cortiço: a "Estalagem São Romão." Logo se ergueriam novas pendências, como a pedreira (que servia emprego aos moradores) e o armazém (onde os mesmos compravam seus artigos de necessidade). O crescimento só não agrada ao Senhor Miranda, dono de um sobrado vizinho.

Nas casas do cortiço, figuras das mais variadas caracterizações podem ser vistas e apreciadas: entre eles o negro Alexandre, a lavadeira Machona, a moça Pombinha, Jerônimo e Piedade (casal de portugueses), e a sensual Rita Baiana, que desfilava toda a sua sensualidade dançando nas festas. Num desses encontros feitos de música e gritos, Jerônimo se encanta com a dança de Rita Baiana, o que provoca ciúmes em Firmo, amante da moça. Há uma violenta briga, e Firmo fere o jovem português com uma navalha, fugindo logo depois. Jerônimo vai parar num hospital.

Forma-se um novo cortiço perto dali, recebendo o apelido de "Cabeça-de-gato" pelos moradores do cortiço de João Romão. Estes, por sua vez, os apelidam de "Carapicus", o que já indica a competição e a rincha entre eles. Enquanto isso, Jerônimo volta do hospital e, numa emboscada, mata Firmo, agora morador do cortiço rival. Enquanto o jovem português larga a mulher para viver com Rita Baiana, o pessoal do "Cabeça-de-gato" entra em guerra com os moradores do cortiço de João Romão para vingar a morte de Firmo. Um incêndio misterioso acaba com o conflito e destrói grande parte do cortiço do velho comerciante português.

João Romão reconstrói sua estalagem, que fica ainda mais próspera, e se alia a Miranda, com a intenção de freqüentar rodas mais finas e elegantes e se casar com um moça de boa educação. O verdadeiro intento do esperto comerciante é a mão de Zulmira, filha do novo amigo. Concretizando seu sonho, só resta agora se livrar do incômodo de sua companheira Bertoleza. Isso se dá através de uma carta enviada aos proprietários da negra fugida, revelando seu esconderijo. Estes não demoram a aparecer no cortiço com o intuito de levá-la de volta. Bertoleza, percebendo a traição, suicida-se com a mesma faca de limpar peixes que usou a vida inteira para preparar as refeições de João Romão e os clientes do seu armazém.

PERSONAGENS

As personagens em O Cortiço não podem ser tratadas como entidades independentes, podendo ser vistas preferencialmente como partes de uma rede intrincada de influências e interações. Alguns podem ser separados em grupos de forma mais clara em grupos de relacionamento, esquema no qual serão apresentados a seguir.

O cortiço e o sobrado: personagem principal; sofre processo de zoomorfização; é o núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão. Apesar de seu crescimento, desenvolvimento e transformação acompanharem os mesmos estágios na pessoas de João Romão, é, na verdade, o estabelecimento que muda o dono, não o contrário. Vê-se na evolução do cortiço um processo que não se pode evitar ou reverter, determinado desde o início da história, tendo João Romão apenas feito o que estava em seu instinto de homem desprovido de livre-arbítrio fazer. O sobrado representa para o cortiço o mesmo que Miranda representa para Romão, criando-se entre eles a mesma tensão que existe entre os dois homens.

João Romão, Miranda, Bertoleza e secundariamente, Zulmira, Botelho e D.Estela: de acordo com o crítico literário Rui Mourão, os elementos conflitantes na obra "não se isolam em planos equidistantes. Ao contrário, o que existe [...] é um estado de permanente tensão e mútua agressão". Afirma, em outra ocasião, que dessas lutas ninguém sairá vencedor ou vencido. Miranda e João Romão, apesar de aparentarem ser diferentes frente à sociedade, são essencialmente influenciados pelos mesmos elementos, tendo que ter, portanto, o mesmo destino. Seus rumos se tornam entrelaçados similarmente aos laços existentes entre sobrado e cortiço: vizinhos, porém distantes; diferentes, porém iguais sob olhar mais minucioso. Romão e Miranda são complementares. Bertoleza e D.Estela são, sob todas as óticas, o oposto uma da outra: a negra escrava, pobre e fiel, e a mulher branca, nobre e adúltera. Não há relação de complementação nesse caso, apenas uma forma de acentuação do abismo de inveja que une João e Miranda. Enquanto um deseja a independência, a prosperidade e a fidelidade conjugal do outro, o outro almeja os contatos, a nobreza e a capacidade de esbanjamento do um. Zulmira e Botelho têm aqui papéis de meros instrumentos do autor para dar andamento à história.

Jerônimo, Rita, Firmo e Piedade: nas relações entre essas personagens é demonstrado mais claramente o princípio naturalista que rege a obra de Azevedo. Suas interações são baseadas puramente no instinto, no desejo sexual, no ciúme, na ira. Jerônimo e Firmo, são, como Romão e Miranda, complementos um do outro. Um era "a força tranqüila,o pulso de chumbo, em constante tensão com a força nervosa (...) o arrebatamento que tudo desbarata no sobressalto do primeiro instante". Mas, nas palavras de Azevedo, ambos corajosos. O autor deixa claro que nenhum deles pode fugir ao que lhes está destinado. Jerônimo, desde o dia em que viu Rita dançar pela primeira vez, estava fadado à perdição, arrastando Firmo e Piedade para o caminho do ciúme e da destruição a morte, no caso de Firmo, e a miséria e a quase-loucura, no caso de Piedade. A metamorfose de Jerônimo se dá como tentativa de se tornar Firmo antes de tirar o que lhe pertence não só Rita, mas tudo o que ela implicava: a beleza, os encantos da terra, a vida feliz do malandro sem preocupações. Cada um reage mais ou
menos de acordo como suas características pessoais, notoriamente a raça (a submissão da portuguesa e a belicosidade do mulato capoeira), mas se faz presente em todos a conformação, a inércia. Com a morte de Firmo, Jerônimo assimila o papel de seu rival, mantendo um fantasma do que era no passado, que a bebida e a Rita contribuem para esmaecer. Os elementos naturais e as circunstâncias estão sempre a sufocar qualquer manifestação psicológica independente, carregando os personagens numa correnteza inevitável e irreversível.

Pombinha, Leónie e Senhorinha: desde o momento em que é apresentada, a prostituta Leónie, madrinha de uma das filhas de Augusta, representa a independência financeira que aqueles que têm vida honesta não conseguem alcançar. Vende seu corpo, mas o que faz não é crime aos olhos dos moradores do cortiço, que não tem as cínicas restrições sexuais da burguesia brasileira. Pombinha, filha de D.Isabel, era uma garota de 18 anos que ainda não havia se tornado mulher. Após anos esperando o momento de se casar, irá se separar do marido após pouco tempo para seguir num relacionamento homossexual com Leónie, que havia lhe iniciado no prazer sexual. Ao atiçar a sexualidade de Pombinha, fazendo com que ela atinja a puberdade, Leónie põe em funcionamento uma dinâmica de acontecimentos que passam a independer da vontade dos personagens. Pombinha possuía um desenvolvimento intelectual maior que a maioria dos personagens do cortiço, talvez por não se ter visto envolvida tão cedo nas tramas de sexo e ciúme que os consumiam. Ao ter que começar uma vida como mulher casada, não
conseguiu se adaptar à falta de liberdade e foi viver com Leónie, aprendendo seu ofício. Ironicamente, a comercialização do sexo protagonizada por Leónie e Pombinha se contrapõe à vulgarização do sexo pelos moradores do Cortiço enquanto esses são escravos de seus impulsos, Leónie e Pombinha se tornam mais senhoras de si através do desejo alheio. Nesse quadro, Senhorinha, a filha de Jerônimo se insere para provar que ninguém foge ao meio: tendo sido criada num cortiço, substituindo Pombinha para seus moradores, com os pais separados e vendo homens tirar proveito da mãe de forma constante, termina tendo o mesmo destino de Pombinha, apesar da educação que teve.

Alguns personagens secundários, usados por Azevedo principalmente como objetos de estudo da temática determinista:

- Henrique: filho de um fazendeiro importante que se encontra aos cuidados de Miranda até o fim de seus estudos. Cultivará um caso com D.Estela.
- Valentim: filho alforriado de uma escrava por quem D. Estela nutria afeição ilimitada.
- Leonor: negrinha virgem, moradora do cortiço.
- Leandra (Machona): portuguesa feroz, habitante do cortiço.
- Ana das Dores: filha desquitada de Machona.
- Neném: filha virgem de Machona, muito cobiçada.
- Agostinho: filho caçula de Machona que morre num acidente da pedreira.
- Augusta: brasileira branca, honesta, casada com Alexandre e com muitos filhos.
- Alexandre: mulato, militar, dava muito valor ao seu emprego.
- Juju: afilhada de Leónie.
- Leocádia: portuguesa, esposa de Bruno, comete adultério com Henrique.
- Bruno: ferreiro casado com Leocádia.
- Paula (a Bruxa): cabocla velha que exercia função de curandeira. Põe fogo no cortiço duas vezes após enlouquecer, morrendo na segunda tentativa.
- Marciana: mulata velha, com mania de limpeza, mãe de Florinda, que perde o juízo quando a filha foge de casa.
- Florinda: filha virgem de Marciana, que engravida de um dos vendeiros de Romão e foge de casa.
- Dona Isabel: mãe de Pombinha. Seu maior sonho é ver a filha casada.
- Albino: lavadeiro homossexual, morador do cortiço.
- Delporto, Pompeo, Francesco e Andrea: imigrantes italianos que residiam no cortiço. Azevedo foi um dos primeiros a caracterizar literariamente a figura do imigrante italiano no Brasil, mesmo que de forma preconceituosa, retratando-os como carcamanos imundos.
- Porfiro: mulato capoeira amigo de Firmo.
- Libório: velho pão-duro que esmolava entre os outros moradores do Cortiço, mas que possuía uma fortuna escondida, da qual Romão irá se apoderar depois da morte de Libório no segundo incêndio provocado por Bruxa.
- Pataca: cúmplice de Jerônimo no assassinato de Firmo, torna-se um dos aproveitadores de Piedade depois que Jerônimo vai morar com Rita.

A homossexualidade retradada em O Cortiço

No naturalismo brasileiro o homem é visto como produto do meio e biológico. A questão da homossexualidade é tratada como desvio de conduta, anormal, patológico, animalesca. Assim as personagens apresentam desvios. O naturalismo é material, é do corpo não humano. Retratando a realidade de forma objetiva, descrevendo grupos marginalizados.

O autor retrata a vivência e o comportamento da sociedade sobre uma ótica estética, rica em detalhes, com teor denunciativo, rompimento com o romance convencional.

Na época em que foi publicado o romance causava choque aos leitores, por seus temas que mostrava através do ficcional o factual, como por exemplo a homossexualidade de Léonie e Pombinha. Léonie configura-se como a pervertida, que desvia Pombinha do caminho, havendo apelos carnais. O autor descreve as personagens com instinto animal, patente o depreciativo, relações de interesse, sedução, desejo, poder, culminados nos processos deterministas do cientificismo/ evolucionismo.Os furtos, estrupos, homicídios ocorrem sem justificativa.

Léonie - Nos dias atuais poderíamos definir Léonie, como uma mulher forte, autêntica, a frente do seu tempo. Mais por si tratar de um romance naturalista há controvérsia, já que no naturalismo Léonie seria definida como mulher pervertida, impura, aquela que tem que ser banida, pois é um "mal" que assola a sociedade e pode contaminar os que conviverem com ela.

A mulher no naturalismo era tratada como objeto sexual, e tudo sobre os desvios na sexualidade estavam relacionados a fatores internos e externos. O autor caracteriza Léonie como mulher de procedência francesa que possuía um sobrado na cidade, o que demonstrava status. A busca por relação sexual para satisfazer-se:

(...) Os seus lábios pintados de carmim, sua pálpebras tingidas de violeta; o seu cabelo artificialmente loiro. (AZEVEDO, 2009, p.105).

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

PROJETO CONSCIÊNCIA SÓCIOAMBIENTAL O LIXO NUMA ABORDAGEM REFLEXIVA

ESTADO DE ALAGOAS
SECRETARIA EXECUTIVA DE EDUCAÇÃO
ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA IZAURA ANTONIA DE LISBOA
Rua Antônio Marroquim, S/N – Baixão – Arapiraca / AL.
CNPJ: 06.247.161/0001-6













CONSCIÊNCIA SÓCIOAMBIENTAL
O LIXO NUMA ABORDAGEM REFLEXIVA













Arapiraca/Alagoas
2010
JUSTIFICATIVA



Atualmente, vivemos num ambiente onde a natureza é profundamente agredida por toneladas de matérias-prima, provenientes dos mais diferentes lugares do planeta, são industrializadas e consumidas gerando rejeitos e resíduos, que são comumente chamados lixo. Seria isto lixo mesmo? Em uma concepção moderna, o lixo se caracteriza por uma massa heterogênea de resíduos sólidos, resultante das atividades humanas, os quais podem ser reciclados e parcialmente utilizados, gerando, entre outros benefícios, proteção à saúde pública e economia de energia e recursos naturais. A conscientização ambiental consiste num modo de ver o mundo em que se evidenciam as inter-relações e a interdependência dos diversos elementos na constituição e manutenção da vida.
Em termos de educação, essa perspectiva contribui para evidenciar a necessidade de um trabalho vinculado aos princípios da dignidade do ser humano, da participação, da co-responsabilidade, da solidariedade e da eqüidade.Nesta perspectiva este projeto foi elaborado com a intenção de transformar o meio ambiente da unidade escolar, buscando pressupostos na nova realidade de ensino, bem como social e educacional. Por dispor de bastante espaço, a escola necessita de organização com a questão de o lixo ser jogado em qualquer lugar sem os devidos cuidados de coleta ou mesmo, qual é o destino desses resíduos.
O Decreto Federal nº 5.940, de 25 de outubro de 2006. Institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis, e dá outras providências. E o Decreto Estadual Nº 40.645 de 08 de março de 2007 institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública estadual direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis
Sendo assim, a presente proposta visa à conscientização do corpo discente da Escola Estadual Professora Izaura Antônia de Lisboa, localizada na cidade de Arapiraca/AL, da importância de preservar o meio ambiente, cuidando e conservando o lugar onde se vive ou passa a maior parte do tempo e que frequentemente se vê lixo em qualquer lugar, além das ruas que a cerca, pretende-se com isso, divulgar a iniciativa da coleta seletiva e reciclagem de lixo no âmbito de toda a escola e nas comunidades próximas a ela, bem como na cidade.
Ficaremos com o destino, especialmente, do lixo doméstico, como aproveitá-lo, seu condicionamento ao solo através da compostagem e outros mecanismos de coleta, bem como estudos de áreas degradas e preservadas.
Tem como objetivo que os alunos utilizem esses conhecimentos adquiridos por meio da prática da coleta seletiva e da pesquisa, refletindo sobre o problema do lixo urbano e rural no meio ambiente e o que pode ser feito para melhorar a vida na comunidade, bem como a capacidade de compreensão e expressão nas várias situações de necessidade que houver, promovendo no educando habilidades para desenvolver práticas sociais de conscientização na sua comunidade.
















OBJETIVOS

GERAL

• Sensibilizar à comunidade escolar de que o lixo é um problema grave que assola a escola, a cidade e o mundo, especialmente na região mais carente;


ESPECÍFICOS:

• Relacionar os problemas ao lixo doméstico, urbano e rural que podem ser resumidos nos seguintes tópicos: conscientização, políticas públicas, doenças e destino do lixo.

• Trabalhar na prática com atividades que desenvolvam habilidades de conscientização na escola e na comunidade.

• Investigar áreas degradas e preservadas na própria cidade de Arapiraca.














METODOLOGIA



Em busca de uma exploração minuciosa acerca do tema escolhido para esse projeto percorreremos um caminho investigativo que inicialmente se dará pela pesquisa bibliográfica “Seu objetivo é buscar compreender as principais contribuições teóricas existentes sobre um determinado tema-problema ou recorte, considerando as produções existentes” (HORN, 2005, p. 73)
Para a execução desse projeto, serão realizados ainda a pesquisa de campo

A principal finalidade deste tipo de pesquisa é recolher, registrar, ordenar e comparar dados coletados em campo (com uso de instrumentos específicos de acordo com os objetivos do assunto escolhido como objeto de estudo. [...] Consiste na observação de fatos tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de dados e no registro de variáveis presumidamente relevantes para ulteriores análises (RUIZ, 1982. p. 50)


A principal finalidade das pesquisas realizadas é possibilitar aos estudantes da Escola Estadual Professora Izaura Antônia de Lisboa a possibilidade de mudança de postura frente às questões ambientais. Desse modo, pretende-se que sejam produzidos vídeos de ambientes poluídos antes (ÁREAS DEGRADADAS), durante a realização das atividades e depois da conclusão dos trabalhos, pesquisas e estudos desenvolvidos nesse contexto da conscientização do problema do lixo (ÁREAS PRESERVADAS). Serão adquiridos três tipos de lixeiras: verde (para lixo reciclável), cinza (para lixo não reciclável) e marrom (para lixo orgânico). Essas lixeiras serão distribuídas em pontos estratégicos do escola (locais de maior circulação de alunos, professores e servidores). O lixo coletado será recolhido pelas cooperativas de coleta de lixo cadastradas, periodicamente, de acordo com a necessidade. Paralelamente, serão produzidos panfletos e cartazes explicativos dos procedimentos de coleta seletiva de lixo e reciclagem que serão distribuídos na própria escola. Serão criados pontos de coleta de pláticos, pilhas e baterias na Secretaria e Diretoria da escola. As pilhas e baterias coletadas serão encaminhadas para uma empresa responsável que possua um projeto de direcionamento desses resíduos tóxicos.
Além disso, palestras educativas serão ministradas para maiores esclarecimentos sobre o assunto. Bem como atividades educativas sobre as doenças e prevenções decorrentes do lixo. No decorrer dessas atividades será feito visitas a outras escolas, empresas no sentido de conscientizar a questão dos vários tipos de lixo e ou poluição que se tem e dever ser tomados alguns cuidados no sentido de educar a população para um ambiente cada vez melhor.
Nos meses finais do projeto, será realizada uma pesquisa de opinião através da qual se questionará alunos e servidores da escola sobre a efetividade e abrangência do mesmo, bem como apresentações das atividades desenvolvidas através de vídeos, painéis de pesquisa sobre a quantidade de lixo produzido a nível de escola e cidade, artigos de opinião, poemas, paródias, textos publicados e selecionados como incentivo de desenvolvimento de ponto de vista dos alunos, trabalhos de reciclagem.



















AVALIAÇÃO

A avaliação será realizada de forma qualitativa, na verificação dos procedimentos e resultados descritos pelos alunos nas próprias atividades.




























CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

Atividade / Período JUL AGO SET OUT NOV DEZ
1- Reuniões para sensibilizar os docentes para a necessidade de desenvolver o projeto na escola.
2- Reunião com os funcionários da escola visando sensibilizá-los para a necessidade de participação no projeto.
3- Reuniões de professores por área de conhecimento x
3- Levantamento bibliográfico (os professores) x
4- Apresentação da proposta do projeto pensada pelos docentes aos estudantes do Ensino fundamental e médio, convidando os alunos a participarem, desafiando-os com a missão do projeto.
X x
5- Elaboração dos sub-projetos com os alunos.
6- Apresentação do Projeto para os diversos segmentos da comunidade escolar
7- - Indicação de fontes de pesquisas tais como: livros, revistas e sites relevantes para a pesquisa na área.
8-- Produção do material de
divulgação da coleta seletiva para a escola
compra das lixeiras. x
9- - Contato com as empresas de coleta de material x
10-Estudo das áreas degradadas e preservadas . prof. Geoane (geografia) & Quiteria(português) 2º s e 3ºs anos/ensino médio com a pesquisa teórica. x x x
11- Alocação das lixeiras no espaço escolar distribuição do material de divulgação e palestras de esclarecimento da coleta no âmbito da escola x
12-Palestras (promovida pelo professor Genivaldo nas turmas de ensino médio sobre um dos problemas: a dengue) x
13-produção do material de
divulgação da coleta seletiva para ambientes fora da escola e pesquisa para coleta de dados profª Vera (matemática) 2ºs anos/ensino médio
x x x
14-Distribuição do material de
divulgação e palestras de esclarecimento da coleta fora (escolas e empresas) x x
15- sobre hábitos de higiene PROFESSORA TELMA LIRA
1 Levantamento do lixo produzido na escola.
2 De que é feito o lixo que produzimos em nossa escola?
3 Qual o destino do lixo que produzimos em nossa escola?
4 O que é feito com lixo que produzimos na escola?
5 Palestra / Outubro.
profª Telma(geografia) e Edla: ensino fundamental 6º, 7º ,8º, e 9º anos
x
16- sobre os hábitos de reciclagem dos descartáveis no
ambiente familiar e escolar
profª Penha (história)
Reações químicas com a profª
Vanessa (química) :
turmas : 1ºs anos/ensino médio x
17 Trabalhar as doenças transmitidas pela água e pelo solo contaminado, trabalhando com levantamento de dados sobre o município de Arapiraca e enfocando os procedimentos higiênicos para evitá-las. (3ºs anos/ensino médio matutino e vespertino – Profª Bio Viviane)
Pesquisar a importância de estações de tratamento de água e de esgoto na cidade ou Estado e o procedimento adequado da população na ausência destes. (2ºs anos/ ensino médio matutino e vespertino – Profª Bio Viviane) x x x
17-Pesquisa de opinião sobre a efetividade do projeto na escola:
Prfª : Quitéria (2º A,B e C ”VESPERTINO” e 3º A e B “MATUTINO E VESPERTNO”);
• TEXTOS
• PRODUÇÕES TEXTUAIS:
• Artigo de opinião
• Artigo visual x x
18- apresentação dos trabalhos finais.
• Avaliações dos trabalhos
• Escolha do/s melhore/s artigos ( opinião /visual) para publicação no site (a escolher)
x
19- Preparação do relatório final do
Projeto.
x

















REFERÊNCIAS



Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/d5940.htm. Acesso em 19/07/2010.

Disponível em: https://www.lixo.com.br. Acesso em 12/08/10


HORN, Geraldo Balduino. Metodologia da pesquisa. Curitiba: IESD, 2005.

RUIZ, J.A. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos: São Paulo: Atlas, 1982.

SARIEGO, José Carlos. Educação Ambiental: as ameaças ao planeta azul. São Paulo: Scipione, 2002.



















RECURSOS
Materiais:
• CAMERAS
• FILMADORA
• LIXEIRAS
• COMPUTADORES
• INTERNET
• IMPRESSORAS
• PAPEL
• CANETAS
• LAPIS
• PINCÉIS
• PILOTO

Humanos:
• DIREÇÃO
• COORDENAÇÃO
• PROFESSORES
• ALUNOS
• E OS DEMAIS Q COMPÕEM A ESCOLA
Financeiros
Nº Item Quantidade R$



ANEXOS


ESCOLA IZAURA ANTONIA DE LISBOA
PROJETO MEIO AMBIENTE
SUBPROJETO: AS ÁREAS DEGRADADAS E PRESERVADAS EM ARAPIRACA – DOCUMENTÁRIO CRÍTICO E ANALÍTICO.
PROFESSOR ORIENTADOR: GEOVANE
TURMAS ENVOLVIDAS: 3º ANO MÉDIO MATUTINO E VESPERTINO
OBJETIVO GERAL: Demonstrar através de imagens a realidade de um ambiente preservado em contraposição a um ambiente degradado na localidade em que vivemos, como forma de gerar uma consciência de preservação para uma melhor qualidade de vida.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Fazer um levantamento das áreas com impactos ambientais em Arapiraca, a exemplo de lixo urbano, esgotos, poluição visual e sonora, desmatamento e poluição atmosférica.
Debater em sala de aula sobre a problemática dos impactos ambientais em nível nacional, associando aos problemas inerentes a realidade local.
Verificar as áreas urbanas com preservação ambiental como: ruas arborizadas, artérias com saneamento básico, áreas verdes, praças com intenso trabalho de jardinagem, além de ambientes com vegetação natural na zona rural.
Realizar pesquisa de campo junto a comunidade através de entrevistas para entender qual a posição da sociedade acerca das áreas degradadas e preservadas.

METODOLOGIA:
Trabalhar os conteúdos relativos ao Meio Ambiente nas turmas do 3º ano Médio;
Dividir as salas de aula em grupos temáticos: Lixo urbano, Esgotos, Poluição Visual, Poluição Sonora e Poluição Atmosférica (Áreas degradadas); Áreas Verdes, Ruas Arborizadas, Saneamento Básico, Praças preservadas, Áreas de vegetação nativa ( Áreas preservadas)
Direcionar as equipes para pesquisa bibliográfica e na internet sobre os temas de cada uma, além de pesquisas junto aos órgãos públicos.
Elaborar questionários de pesquisa de campo para entrevistar moradores de áreas preservadas e degradadas.
Tabular os resultados obtidos na pesquisa de campo, elaborando gráficos para análise dos mesmos e posterior apresentação no auditório.
Realizar filmagem das áreas degradadas e preservadas em forma de documentário, com edição baseada em programas jornalísticos.
Apresentar o documentário para as turmas envolvidas e demais turmas da escola como forma de conscientizar para a necessidade de preservar o ambiente em que vivemos.
O documentário sobre Poluição visual e sonora, bem como os gráficos obtidos na pesquisa de campo será apresentado também para as turmas dos 1ºs anos junto a disciplina Língua Portuguesa em parceria com a Profª Eliane.


O documentário Lixo Urbano, bem como os gráficos relativos ao tema serão apresentados aos alunos do 8º e 9º anos em parceria com a disciplina Língua Portuguesa, através da Profª Élvia.

CRONOGRAMA: Meses Atividades
Agosto Socialização e divisão das equipes
Setembro Pesquisa de campo com entrevistas
Outubro Filmagens e edição do material coletado
Novembro Análise dos resultados
Dezembro Apresentações

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

BOA SORTE ALUNOS E ALUNAS!

RESUMOS
São Bernardo, de Graciliano Ramos
Análise da obra

Publicado em 1934, São Bernardo está entre o que de melhor o romance brasileiro produziu. Num primeiro instante pode até parecer uma história de vitória de seu narrador-protagonista, Paulo Honório, que foi de guia de cego na infância até se tornar latifundiário do interior de Alagoas. No entanto, a questão principal é muito mais aguda e amarga.

Para alcançar sua ascensão social, o narrador paga um preço altíssimo, que é a destruição do seu caráter afetivo. Na verdade, a perda de sua humanidade pode ser entendida como fruto do meio em que vivia. Massacrado por seu mundo, acaba tornando-se um herói problemático, defeituoso (parece haver aqui um certo determinismo, na medida em que o homem seria apresentado como fruto e prisioneiro das condições mesológicas).

Há um aspecto que atenta contra a sua verossimilhança, que é um célebre problema de incoerência: como um romance tão bem escrito como pôde ter sido produzido por um semi-analfabeto como Paulo Honório. É uma narrativa muito sofisticada para um narrador de caráter tão tosco.

Quando se menciona que a narrativa é sofisticada, não se quer dizer que haja rebuscamento. A linguagem do romance, seguindo o estilo de Graciliano Ramos, é extremamente econômica, enxuta, mas densa de beleza.

Outra beleza pode ser percebida pela maneira como o tempo é trabalhado. Há o tempo do enunciado (a história em si, os fatos narrados) e o tempo da enunciação (o ato de narrar, de contar a história). O primeiro é pretérito. O segundo é presente. Mas há momentos magistrais, como os capítulos 19 e 36, em que, em meio à perturbação psicológica em que se encontra o narrador, os dois acabam-se misturando.

Todos esses elementos, portanto, fazem de São Bernardo uma obra do mais alto quilate, facilmente colocada entre os cinco melhores romances de nossa literatura.

Enredo

Paulo Honório, homem dotado de vontade férrea c da ambição de se tornar fazendeiro, depois de atingir seu objetivo, propõe-se a escrever um livro, contando a se vida, de guia de cego a senhor da Fazenda São Bernardo,

Movido mais por uma imposição psicológica, Paulo Honório procura uma justificativa para o desmoronamento da sua vida e do seu fracassado casamento com Madalena, que se suicida.

No livro, ao mesmo tempo em que faz o levantarnento existencial de uma vida dedicada à construção da Fazenda São Bernardo, Graciliano Ramos desnuda o complexo destrutivo que Paulo Honório representa:

Cinqüenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma pessoa a vida inteira sem saber por quê! Comer e dormir como um porco! Como um pomo! Levantar-se cedo todas as manhãs e sair correndo, procurando comida! E depois guardar comida para os filhos, para os netos, para muitas gerações. Que estupidez! Que porcaria! Não é bom vir o diabo e levar tudo?

Comentários

São Bernardo é um romance de confissão, aparentado com Dom Casmurro. Narrado em primeira pessoa, é curto, direto e bruto. Poucos, como ele, serão tão honestos nos meios empregados e tão despidos de recursos; e esta força parece provir da sólida unidade que o autor lhe imprimiu. As personagens e as coisas surgem como meras modalidades do narrador, Paulo Honório. ante cuja personalidade dominadora se amesquinham, frágeis e distantes. Mas Paulo Honório, por sua vez, é modalidade duma força que o transcende e em função da qual vive: o sentimento de propriedade. E o romance é, mais que um estudo analítico, verdadeira patogênese desse sentimento.

De guia de cego, filho de pais incógnitos, criado pela preta Margarida, Paulo Honório se elevou a grande fazendeiro, respeitado e temido, graças à tenacidade infatigável com que manobrou a vida, ignorando escrúpulos e visando atingir o seu alvo por todos os meios.

O “teu fito na vida foi apossar-me das terras de São Bernardo, construir esta casa, plantar algodão, plantar mamona, levantar a serraria e o descaroçador introduzir nestas brenhas a pomicultura e a avicultura, adquirir um rebanho bovino regular

É um homem que supervaloriza a propriedade, tipo de gente para quem o mundo se divide em dois grupos: os eleitos, que têm e respeitam os bens materiais, e os réprobos, que não os têm ou não os respeitam.

Daí resultam uma ética, uma estética e até uma metafísica, De fato, não é à toa que um homem transforma o ganho em verdadeira ascese, em questão definitiva de vida ou morte.

A princípio o capital se desviava de mim, e persegui-lo sem descanso, viajando pelo sertão, negociando com redes, gado, imagens, rosários, miudezas, ganhando aqui, perdendo ali, marchando no fiado, assinando letras, realizando operaçôes embrulhadíssimas. Sofri sede e fome, dormi na areia dos rios secos, briguei com gente que fala aos berros e efetuei transações de armas engatilhadas.

O próximo lhe interessa na medida em que está ligado aos seus negócios, e na ética dos números não há lugar para o luxo do desinteresse.

(...) esperneei nas unhas do Pereira, que me levou músculo e nervo, aquele malvado. Depois, vinguei-me: hipotecou-me a propriedade e tomei-lhe tudo, deixei-o de tanga.

(...) levei Padilha para a cidade, vigiei-o durante a noite. No outro dia cedo, ele meteu o rabo na ratoeira e assinou a escritura. Deduzi a dívida, os juros, o preço da casa, e entreguei-lhe sete contos quinhentos e cinqüenta mil-réis. Não tive remorsos.

Uma só vez age em obediência ao sentimento de gratidão, recolhendo a negra que o alimentou na infância e que ama com uma espécie de ternura de que é capaz. Ainda assim, porém, as relações afetivas só se concretizam numericamente:

A velha Margarida mora aqui em São Bernardo, numa casinha limpa, e ninguém a incomoda. Custa-me dez mil-réis por semana, quantia suficiente para compensar o bocado que me deu.

Com o mesmo utilitarismo estreito analisa a sua conduta: A verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que me deram lucro.

Até quando escreve, a sua estética é a da poupança:

É o processo que adoto: extraio dos acontecimentos algumas parcelas; o resto é bagaço.

A aquisição e a transformação da Fazenda São Bernardo levam, todavia, o instinto de posse de Paulo Honório a arraigar-se num sentimento patriarcal, naturalmente desenvolvido - tanto é verdade que o seu modo de agir depende em boa parte das relações com as coisas.

Amanheci um dia pensando em casar Não me ocupo com amores, devem ter notado, e sempre me pareceu que mulher é um bicho esquisito, difícil de governar (...) O que sentia era desejo de preparar um herdeiro para as terras de São Bernardo.

A partir desse momento, instalam-se na sua vida os fermentos de negação do instinto de propriedade, cujo desenvolvimento constitui o drama do livro.

Com efeito, o patriarca à busca de herdeiro termina apaixonado, casando-se por amor; e o amor em vez de dar a demão final na luta pelos bens, revela-se, de início, incompatível com eles. Para adaptar-se, teria sido necessária a Paulo Honório uma reeducação afetiva impossível à sua mentalidade, formada e deformada. O sentimento de propriedade, acarretando o de segregação dos homens, o distancia das pessoas, porque origina o medo de perder o que já conquistou, e o seu convívio com outros resume-se em relações de mera concorrência. O amor, pelo contrário, unifica e totaliza. Madalena, a mulher - humanitária, mão-aberta -, não concebe a vida como uma relação de possuidor e coisa possuída. Daí o horror com que Paulo Honório vai percebendo a sua fraternidade, o sentimento, para ele incompreensível, de participar na vida dos desvalidos.

Nessa luta, porém, não há vencedores. Acuada, vencida, Madalena suicida-se. Paulo Honório, vitorioso, de uma maneira que não esperava e não queria, sente, no admirável capítulo XXXVI, a inutilidade do violento esforço da sua vida:

Sou um homem arrasado (...) Nada disso me traria satisfação (...) Quanto às vantagens restantes — casas, terras, móveis, semoventes, consideração de políticos, etc. - é preciso convir em que tudo está fora de mim. Julgo que me desnorteei numa errada (...) Estraguei minha vida estupidamente (...) Madalena entrou aqui cheia de bons sentimentos e bons propósitos. Os sentimentos e os propósitos esbarraram com a minha brutalidade e o meu egoísmo.

Vencendo a vida, porém, foi de certo modo vencido por ela; imprimindo-lhe a sua marca, ela o inabilitou para as aventuras da afetividade e do lazer. Nesse estudo patológico de um sentimento, Graciliano Ramos - juntando mais um dado à psicologia materialista esposada em Caetés - parte do pressuposto de que a maneira de viver condiciona o modo de ter e de pensar:

Creio que nem sempre fui egoísta e brutal. A profissão é que me deu qualidades tão ruins. E a desconfiança terrível que me aponta inimigos em toda a parte! A desconfiança é também uma conseqüência da profissão.

Foi este modo de vida que me inutilizou. Sou um aleijado. Devo ter um coração miúdo, lacunas no cérebro, nervos diferentes dos nervos dos outros homens. E um nariz enorme, uma boca enorme, dedos enormes.

O seu caso é dramático, porque há fissuras de sensibilidade que a vida não conseguiu tapar, e por elas penetra uma ternura engasgada e insuficiente, incompatível com a dureza em que se encouraçou. Daí a angústia desse homem, cujos sentimentos eram relativamente bons, quando escapavam à sua tirania, ao descobrir em si mesmo estranhas sementes de moleza e lirismo, que é preciso abafar a todo custo.

Emoções indefiníveis me agitam — inquietação terrível, desejo do/do de ‘oltar de tagarelar novamente com Madalena, como fazíamos todos os dias, a esta hora. Saudade? Não, não é isto: é antes desespero, raiva, um peso enorme no coração

A INVASÃO DE DIAS GOMES

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A Invasão, de Dias Gomes, é uma peça escrita em 1960 e enfoca o proletariado urbano como massa onde não é possível a emergência do protagonismo ou a unidade de ação. Na época, sua fonte de inspiração foram os constantes desabamentos em morros cariocas durante os temporais de verão. Texto dos mais polêmicos das obras de Dias Gomes, A Invasão estreou em 1962, sendo proibido pelo AI-5, seis anos depois.

É um drama intenso e amargo. O autor investiga causas e conseqüências dos nossos problemas sociais numa linguagem despojada e contundente. Aponta soluções drásticas num país onde impera a desigualdade social e vive de politicagem. A peça é uma espécie de crônica ao Brasil depois de 1964. Dias Gomes quer alertar o povo da necessidade de ser independente.

A obra foi baseada em um fato real: no final dos anos 50, um edifício em construção próximo ao Estádio do Maracanã no Rio de Janeiro foi invadido e ficou sendo conhecido como Favela do Esqueleto. Hoje a favela não existe mais, no edifício funcionam alguns cursos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Na obra, Dias Gomes aborda o problema dos sem teto nos centros urbanos. Enfoca o proletariado urbano como massa onde não é possível a emergência do protagonismo ou a unidade de ação. A peça narra uma dessas invasões que se repetem até os dias de hoje.

Enredo

Um grupo de favelados, desalojado por uma enchente, ocupa o esqueleto de um edifício em construção e passam a viver oprimidos entre as promessas de políticos demagogos e a exploração de negociantes inescrupulosos. Colméia humana onde cada família indica a heterogeneidade de objetivos dessa massa que só se iguala pela miséria em que vive e pelas violências que sofre, a peça não lhe atribui um movimento ou destino dramático. Capta essas manifestações de impotência e as deixa em suspenso, como uma radiografia que exige uma resposta de quem a observa e não de quem a vivencia.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Calem a Boca, Nordestinos!

Calem a Boca, Nordestinos!

Por: José Barbosa Júnior


A eleição de Dilma Rousseff trouxe à tona, entre muitas outras coisas, o que há de pior no Brasil em relação aos preconceitos. Sejam eles religiosos, partidários, regionais, foram lançados à luz de maneira violenta, sádica e contraditória.



Já escrevi sobre os preconceitos religiosos em outros textos e a cada dia me envergonho mais do povo que se diz evangélico (do qual faço parte) e dos pilantras profissionais de púlpito, como Silas Malafaia, Renê Terra Nova e outros, que se venderam de forma absurda aos seus candidatos. E que fique bem claro: não os cito por terem apoiado o Serra… outros pastores se venderam vergonhosamente para apoiarem a candidata petista. A luta pelo poder ainda é a maior no meio do baixo-evangelicismo brasileiro.
Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter: “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”.
Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros” também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos “amigos” Houaiss e Aurélio) do nosso país.
E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!
Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!
Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?
Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?
Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?
Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos… pasmem… PAULISTAS!!!
E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.
Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.
Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura…
Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner…
E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia…
Ah! Nordestinos…
Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?
Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.
Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!
Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!
Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário… coisa da melhor qualidade!
Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso… mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!
Minha mensagem então é essa: – Calem a boca, nordestinos!
Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.
Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.
Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”
Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe, queridos irmãos nordestinos!

domingo, 7 de novembro de 2010

O ENEM CHEGOU!

CAROS ALUNOS!
COMO FOI A PROVA DO ENEM DE LIMGUAGEM & REDAÇÃO?
"O trabalho na construção da dignidade humana"
TIVERAM MUITAS DIFICULDADES COM ESSE TEMA?
COMENTEM...

terça-feira, 8 de junho de 2010

DICAS PARA PRODUÇÃO TEXTUAL - 3ºs

COMO LER OS TEXTOS:
*LER VÁRIAS VEZES O MESMO TEXTO;
*DESTACAR O VOCABULÁRIO DESCONHECIDO;
*DESTACAR AS PALAVRAS-CHAVE;
*DESTACAR A IDEIA CENTRAL:
*DESTACAR OS ARGUMENTOS;
*OBSERVAR COMO O AUTOR DESENVOLVEU;
*DESTACAR A CONCLUSÃO;
*DESENVOLVER COM ESSA TÉCNICA PONTOS DE
VISTA, RACIOCÍNIO LÓGICO;
*ENTENDER SEMPRE A QUE TESE OU IDEIA O AUTOR
DEFENDE NO TEXTO;
AGORA LEIA O TEXTO E PRATIQUE:

Poesia Matemática
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Às folhas tantas do livro matemático
um Quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide, corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida paralela à dela
até que se encontraram no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos. Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde a almas irmãs) primos entre si.
E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando ao sabor do momento e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar constituir um lar,
mais que um lar, um perpendicular.
Convidaram para padrinhos o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas
para o futuro sonhando com uma felicidade integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos.
E foram felizes até aquele dia em que tudo vira afinal monotonia.
Foi então que surgiu O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos, viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela, uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu que com ela não formava mais um todo, uma unidade.
Era o triângulo, tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração, a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser moralidade
como aliás em qualquer sociedade.
Millôr Fernandes
Responda; 1. Qual é a tese defendida no texto; 2. os argumentos; 3. baseado em que o autor desenvolveu o primeiro argumento;4. que elementos permitem afirmar que o texto é dissertativo- argumentativo; 5 baseado em que houve o raciocínio lógico?
Aluno/a: